Que bom estar lendo algo tão geral, que traz alguns eixos maiores da situação como um todo! É claro, tudo que conheço melhor, acho tratado de maneira simplista. Mas é uma leitura tão rápida, como um grande artigo da Wikipedia.
Ler das independências e todo o debate liberais e conservadores, absolutistas e republicanos, a necessidade de uma legitimidade na soberania popular - tudo isso emendou tão bem com minhas leituras de há duas semanas, quando eu divaguei pelos contratualistas e o debate do século XVIII, com a poderosa Inglaterra e seu parlamento, com a Revolução Francesa... Retomar o embate da imposição da Constituição na Espanha e em Portugal, a criação dos parlamentos; aquele velho debate do Lynch de saquaremas e luzias, liberalismo oligárquico e monarquia progressista...
Me chamou a atenção: chamar de sociedade corporativa; a união com a Igreja em um continente onde não chegou a Reforma Protestante e se manteve uno no catolicismo, com os Patronatos Reais da Espanha unindo política e religião.
Guerra dos 7 anos (1756-1763)(Cuba, Flórida) marca a decadência espanhola e ascensão inglesa. Na verdade é um evento bem complexo, valia olhar no detalhe...
Pré-independência: No fim do XVIII tanto o Marquês de Pombal, como as reformas bourbônicas na Espanha, racionalizam e centralizam, afastando das elites crioulas; subordinam não só ao rei, mas ao Estado-Nação metropolitano, com privilégios.
Independência: Invasão napoleônica vs. Juntas eleitas para administração, fase "autonomista" de assunção provisória do poder, apenas reformulando o vínculo. Assembleia representativa espanhola em 1812 Constituição de Cádis (convidando colonos para as Cortes, estendendo o voto como forma também deles ratificarem o poder, 64 dos 300 (20%) deputados) liberal nos direitos (tributos a indígenas, trabalhos forçados, inquisição), monarquia constitucional, mas fortemente centralizadora. Restauração 1814 rei anula a Constituição e reprime a colônia especialmente Venezuela e Argentina - Bolívar (confederacionista) e San Martín (centralista, defensor de uma monarquia) que vão liderar se encontrar no Peru pró-metrópole. 1820 na Espanha impõem novamente a Constituição. Qual a forma constitucional adequada? Será preciso "plasmar" o povo? Tínhamos um povo, ou um vulcão? que se recebesse direitos, explodiria?
México é bem confuso o que acontece, independência muito conservadora, Miguel Hidalgo e exército camponês, medos da revolução do Haiti, Plano de Iguala 1821, Iturbide conservador.
EUA 1823 enunciam Doutrina Monroe (américa para americanos) que será presente no México e no Caribe.
Pós-independência: instabilidade política (só se instaurava quando se reproduzia algo como um rei) e estagnação econômica (sem comércio externo, sem impostos). Liberais e conservadores eram todos elite crioula, com muito em comum; a posição sobre a Igreja os opunha mais fortemente. Período de introjeção rural em meio à estagnação externa.
A primeira onda constitucional foi mais liberal federalista; letra morta. A segunda onda foi mais conservadora, inspirada na Constituição de Cádis, ou no modelo napoleônico, mas também foi fraca - exceção à Venezuela, Chile (autoritário Portales com constituição de 1833 inspirada pelo teórico Bello que duraria até 1861) e Argentina (Buenos Aires sob ditadura de Rosas 1829-1852). Caudilhos México (López de Santa Anna napoleão do oeste muito poderoso 1830-50 falhou a reprimir a Revolução Texana de 36 que culminaria na guerra 45-48, Califórnia Novo México Colorado Arizona), Paraguai (Rodriguez de Francia isolacionista até 1840), Guatemala (Carrera) - "patrimonialismo", "carismático".
Escravidão se desfaz logo em México, América Central e Chile (onde era marginal), seja pela dificuldade do tráfico, seja por recrutamento negro para as Forças Armadas. Liberdade indígena "modernizante" por vezes os levava para situações piores e causava reação. Livre comércio inglês, abre oportunidade, mas endividamento e destrói manufaturas mexicanas.
Confederação Centro-Americana 1823-1840. Gran Colômbia até 1830 (Venezuela e Equador). Vice-reino do Peru (Chile e Bolívia). Províncias Unidas do Rio da Prata (Paraguai, Uruguai). [ mas pensando por outro lado: se mantiveram enormes a Argentina, o México, a Colômbia! ]
Meados XIX: nova geração intelectual, retomar o impulso original, sem romantismo. Contra Igreja pelas riquezas e muito pela educação e funções de administração (no México pesado, Benito Juárez vs Igreja e extinção das comunidades indígenas, Constituição de 1857 - guerra, imperador mexicano dura 3 anos vs apoio EUA Monroe). Teoria política conservadora Alamán, Bello (que influencia constituição Chile), e liberal Alberdi, Sarmiento, Bilbao, Lastarría. Ideia conservadora da missão pedagógica, liberal do transplante cultural... [ me ocorre o interesse pela "monarquia federativa" (se é que o oxímoro não denuncia a ilusão) ]
Progresso fins XIX: crescimento e estabilização política moderna, generalizados. Argentina à frente (muito exportador carne/cereais, quase colônia britânica), México Chile e Brasil; atrás Gran Colômbia e Peru, América Central. Período de centralização militar (profissionalização via missões alemães e francesas); administração fiscal, judiciária, educacional (censo, dados, estrutura pública); meios de comunicação. Milicos desempenham várias funções de racionalização e ganham auto-imagem.
Globalização (navegação a vapor e trens), periferia primário-exportadora integrada, ganhando investimentos de infraestrutura [ o livro faz o debate anti-neocolonial parecer entre os teimosos de má-vontade, e os razoáveis. Aliás, também irrita como trata crescimento como algo inerentemente progressista, que apaga os traços primitivos: é dualista, evolucionista ].
Crescimento populacional, urbanização (concentrada), terciarização (classes médias - comércio, administração pública, bancos, escola, exército), início de industrialização (e núcleos proletários reprimidos). Imigrantes: pelo seu conhecimento técnico, pela sua cultura/ética capitalista, pela sua raça. No México e no Peru, apenas elites empresariais/comerciais de Espanha/França; imigração maciça para Argentina e Uruguai (população se multiplica muito no XIX, ~metade imigrada), Chile e sul Brasil (São Paulo).
Oligárquicos? Sim, mas também "essa era a política no Ocidente antes do advento da sociedade de massa: exercida por notáveis abastados; violência corrupção e fraudes eram comuns também na Europa". Repúblicas oligárquicas, conservadoras (Constituição eram pactos na elite, eleições ficcionais) - mas havia muita mudança em curso, nas bases.
O Positivismo converge liberais e conservadores, pela racionalização/progresso e pela crença na sociedade orgânica (com lugar para elite comandar, corporações, Igreja) [ fiquei querendo saber mais sobre positivismo, saber mais a fundo ] alimenta a tradição antipolítica.
Guerra Paraguai 65-70 - estava lendo que o Brasil quase não tinha exército desde o 7 de abril - mas tinha esquadra que foi decisiva. E que neutralizou a aliança com o Uruguai, depondo o aliado paraguaio - a guerra inicia com o Brasil invadindo Uruguai. Já a Argentina era uma colcha de retalhos, confederação, mas a província de Buenos Aires consegue unificar e enfrentar a guerra.
(parece no Paraguai que o país era a parte leste, o resto arredondado do oeste é só terra)
Já a do Pacífico 1879-1883, as fronteiras eram sim maldefinidas desde antes, com minas de salitre na área; Peru perde aquela costa também, tinha pacto com Bolívia, ambos ainda desorganizados ante o Chile eficiente.
México: Porfirio Díaz regime 1876-1910 conservador Igreja latifúndios, toma terras indígenas, reprime anarquistas nas minas, modernizador atrai investimentos, ferrovias, boom demográfico, positivismo.
Argentina: partido autonomista nacional, pacto entre oligarquias com hegemonia de Buenos Aires, positivismo... mas sobretudo muita imigração, homogeneidade étnica e cultural [não fala do massacre de índios] e integração com Inglaterra; elite arrogante sobre a AL; parecia se conduzir naturalmente à democracia.
EUA: intervenções a partir de 1898 Cuba (emenda Platt permite intervenção) e Porto Rico em guerra contra Espanha, demarcando nova era, Panamá 1903 (para canal de 1914), prossegue no Caribe e na Am. Central protegendo multinacionais agrícolas e mineradoras + propaganda cultural/protestante: 1904 corolário Ted Roosevelt à Monroe, direito de intervenção. Tudo isso alimenta a hostilidade do nacionalismo AL (como José Martí, cubano, positivista, liberal, pró-mestiçagem, admirava EUA mas defendia a "segunda independência" da AL)
Século XX: Primeira Guerra faz soar o alarme simbólico (modelo de civilização positivista) e prepara o econômico (demole exportadores, impõe fornecimento industrial, evidencia vulnerabilidade, traz inflação) Grande Depressão colapsa esse cenário e alastra onda de golpes de militares. Nada difere da Europa. Passagem pra sociedade de massas, para os conflitos que o progresso trouxe, vs. incapacidade dos regimes de ampliar suas bases (setores médios, elites insatisfeitas, partidos com a questão social fortes nos setores-chave), acusavam agentes infiltrados (defensores da apolítica) - e o liberalismo perde legitimidade frente a: nacionalismo, organicismo, incorporados nos militares. Reações autoritárias ou populistas.
Peru: APRA (aliança popular revolucionária americana criado no méxico 1924) luta vs EUA (com suas mineradoras no Peru) se difundiu na área andina, defendia indoamérica, terceira via (populista) (só chega ao poder me 1985)
Uruguai arrumadinho reformista, árbitro, consegue se modernizar sem explodir conflitos (sistema de Batlle y Ordoñez) até os anos 1970.
México: Francisco Madero concorre às eleições, empunha armas ante a fraude, Porfirio se exila, Madero não segura o poder; general Victoriano Huerta toma o poder; mas no norte o exército constitucionalista de Venustiano Carranza, com apoio de Pancho Villa (caudilho) e do pres. Wilson (!) e o sul zapatista campesino, que depois de acabar com Huerta ficam disputando - até Constituição de Querétaro 1917 liberal, anticlerical, princípios sociais e nacionalistas (propriedade bens subsolo e reforma agrária) [ o livro não fala de marxismo ]
Modernismo vs. positivismo. 1900 ensaio Ariel de Rodó manifesto do nacionalismo antimaterialista, Modernismo de Rubén Darío... tanta coisa conflui num nacionalismo genérico; busca interna de origens e identidade (mítica), necessidade de forjar cidadãos (já que já há Estado), indigenismo, mestiçagem, raza cósmica (José Vasconcelos), espiritualismo, catolicismo (!), primitivismo (Mariátegui e comunismo incaico); nação comunidade orgânica (vs. cosmopolitismo, imitações) estudos etnográficos, reconstrução de costumes
Argentina: golpe 1930 põe fim à democracia, reação ao conflito social crescente e às ideologias revolucionárias, aos partidos majoritários (radicais) sempre monopolizar o poder e se dizer a identidade da nação.
EUA segue de intervenções militares, trinta, algumas de longa duração (Nicarágua onde mataram Sandino que se opunha a eles, Haiti), seja para proteger interesses, pôr fim a guerras civis, United Fruit Company; o pres. Wilson fez com intenção paternalista e pedagógica (mas sempre expandindo o comércio e abalando os europeus) ... alimentando hostilidade.
Paraguai e Bolívia: guerra do Chaco 1932-35, Bolívia quer acesso ao rio paraguai para ter saída ao mar, paraguai não quer perder mais território do que já perdeu pra argentina... e tinha petróleo (ou indícios) na região.
Os anos 1930: Depressão teve impactos curtos, as economias logo se reerguem - se afastando do modelo primário-exportador e do comércio, abraçando intervencionismo, protecionismo e indústria (como faz todo o mundo) na substituição de importações dos bens de consumo mais simples.
Imigração interrompe até por restrições, a não ser a onda de refugiados da guerra civil espanhola (méxico); mas a população se expande por natalidade e redução da mortalidade (especialmente países mais avançados). Mas migrações continuam, êxodo rural, e favelização; não são novidades mas aceleram muito (30% urbano Argentina Chile Uruguai, 15% México Brasil Colômbia Peru - e correspondente alfabetização - ou seja continua campo autoconsumo miséria vs. grandes latifúndios da exportação - e o campo vai se tornando cada vez mais palco de revoltas)